Convencemos eleitores de Bolsonaro que ele é diretamente responsável pela tentativa de golpe do 8J.

A CULPA É DO JAIR
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A CULPA É DO JAIR //
As dicas deste guia foram preparadas a partir de entrevistas com pessoas que votaram em Bolsonaro no 2o turno e condenam os atos de 8 de janeiro. Nessas conversas, analisamos notícias, fotos e vídeos e procuramos entender que argumentos geram resistência e quais são mais persuasíveis.
Você que está chegando neste guia sabe bem tudo que Bolsonaro plantou ao longo de mais de 30 anos na política para que o Brasil testemunhasse a barbárie do dia 8 de janeiro.
Mas, apesar da grande maioria da população (75,8%) condenar os ataques, apenas metade (50,2%) entende que Bolsonaro é responsável por eles.
Esses gráficos aqui são de uma pesquisa da consultoria Atlas Intel, publicada em 10/1 e ajudam a gente a estabelecer um primeiro passo muito importante.
1. Com quem você precisa falar
Esquece quem viu o que rolou em Brasília e concorda com os atos! Para estes, já não há mais salvação. A gente está aqui para falar com quem discorda dos ataques, mas ainda não percebe que Jair Bolsonaro está no centro de tudo. E é muita gente: 33% dos brasileiros estão nessa situação (26% que discordam dos atos mas não acham que Jair é responsável + 7% de indecisos).
É neles que temos que mirar nossa atenção.
2. Estabeleça um terreno comum
O melhor jeito de enquadrar o que rolou em 8 de janeiro é dizendo que aquilo não foi só vandalismo, mas sim um ataque ao Brasil e aos brasileiros. Nada justifica aquelas cenas de violência. O que vimos foi criminoso, um ato que ameaçou o Brasil. Vandalizaram patrimônio público. Destruíram obras que são parte da nossa história. Causaram milhões de reais em prejuízo. Até bater num cavalo eles bateram! E mancharam a imagem do nosso país no mundo todo.
Afirmar essas coisas coloca você e a pessoa com quem você quer falar numa mesma página. Vocês compartilham dessa mesma percepção.
3. Chame as coisas pelo nome
Ataques criminosos, vandalismo, baderna, atos violentos… todas essas nomenclaturas têm efeito semelhante sobre as pessoas.
Nosso achado mais importante está na hora de falar dos participantes. O erro mais comum que podemos cometer (mesmo que seja irônico) é chamá-los de patriotas. Pessoas que votaram em Bolsonaro no segundo turno acham que ali nos atos não há nenhum patriota de verdade.
Descobrimos que para se referir aos participantes, o mais efetivo é chamá-los de fanáticos bolsonaristas.
Isso ajuda as pessoas que votaram no Jair mas não concordam com os ataques a se diferenciar de quem quebrou tudo e, ao mesmo tempo, assumir que, sim, existe uma conexão direta entre os ataques e Bolsonaro.
4. Não aponte Bolsonaro como o único culpado
Sim, A CULPA É DO JAIR, mas se você chegar assim, de sola, pode colocar tudo a perder. Sabe por quê? Porque a maioria das pessoas vai para um lado bem literal: “eu não vi ele chamando as pessoas pros ataques”,”ele não estava lá”...
Teve a polícia cruzando os braços. O exército prometendo proteção. Empresários financiando ônibus. Veículos de mídia multiplicando fake news. Pastores incitando fiéis a não reconhecer o resultado. Políticos e influenciadores digitais apoiando. Todos fechados com Bolsonaro.
Para que isso fique claro, seu trabalho aqui vai ser o de costurar fatos e mostrar a conexão de todos eles com o Jair.
5. Mostre que 8J é fruto do legado de violência do Jair
Os ataques criminosos foram o ponto alto de uma escalada de violência da carreira de Bolsonaro. São mais de 30 anos de campanha movida por ódio. A raiva foi instalada como moeda corrente na política brasileira, dividiu famílias e amigos.
Até para quem votou nele fica difícil discordar do diagnóstico de que Bolsonaro é movido por violência:
defende abertamente a tortura
pregou explicitamente a eliminação de opositores
ensinou criança a fazer arminha com a mão
afirmou que preferiria ter o filho morto a vê-lo "virar gay”
(os exemplos são infinitos)
Isso sem falar nos casos recentes de aliados como Roberto Jefferson, que atirou granadas na polícia, e Carla Zambelli que correu de revólver na mão, à luz do dia, numa tarde ensolarada de sábado atrás de um cidadão que lhe disse algo atravessado.
6. Mostre que 8J é resultado das inúmeras vezes que Jair lançou suspeitas sobre as eleições
Há décadas, Bolsonaro vem plantando dúvidas na cabeça dos brasileiros sobre a validade das eleições. Lá em 1993, quando ainda era deputado federal, disse que o voto impresso era uma fraude e que a eleição só seria válida com… urnas eletrônicas. Quando as urnas eletrônicas finalmente foram implantadas, mudou de ideia. Mesmo tendo sido eleito por elas diversas vezes, promoveu uma campanha sistemática de desinformação sobre elas sem jamais provar nada:
Se eu não tiver 60% dos votos, é fraude
Se os militares não fizerem uma auditoria, a eleição não vale
Se as urnas não tem placa de patrimônio, os votos não podem ser contabilizados
Nos momentos mais extremos, afirmou que com o voto absolutamente nada mudaria no Brasil. Que a única coisa capaz de mudar o país seria uma guerra civil. Em janeiro do ano passado, um ano e um dia antes dos ataques em Brasília, falou que sem o voto impresso íamos ter uma situação pior do que o ataque ao Capitólio nos EUA. Relembre as pessoas desses episódios.
7. Deixe claro que Bolsonaro não é uma criança
Um dos panos que muita gente passa pro Jair é dizer que ele fala sem pensar, se expressa mal ou não tem dimensão do que sua fala pode representar.
Seu papel quando alguém disse algo nessa linha é enfatizar que: Bolsonaro é um homem de 60 e poucos anos, com mais de 30 anos de vida pública, pai de família com cinco filhos, já está no terceiro casamento, maluco já foi presidente da República… que merd4 é essa de tratar o cara como criança? O cara é um adulto, pô! Tem que ser tratado como tal. É senhor de si.
8. Por fim, aposte no fato de que todo mundo sabe que Jair poderia ter impedido 8J, mas se omitiu
Depois de anos falando de fraude e insinuando que só respeitaria o resultado das eleições se elas fossem limpas, o Jair perdeu – e sumiu.
Não reconheceu a vitória de seu opositor, não deu expediente nos últimos meses de mandato, anunciou um discurso, fez todo mundo esperar quase duas horas e falou por… dois minutos.
Diante do silêncio, seus apoiadores ficaram buscando outros sinais de que seu líder ainda estava com eles. Quando poderia ter pacificado os seus apoiadores, Bolsonaro decidiu brincar com as palavras em tuítes ambíguos. Quando deveria passar a faixa ao novo presidente eleito, fugiu para o condomínio de luxo construído por Donald Trump (ex-presidente americano que, quando perdeu a eleição em 2020, agiu de forma bem parecida). E, depois de toda a quebradeira em Brasília, em vez de condenar os atos com veemência, preferiu criticar a esquerda e as acusações ao seu envolvimento.
Resumão do guia
Sem essa de deixa disso!
A vontade é dizer "sem anistia", mas nem todo mundo entende o que isso quer dizer. Então, vamos esclarecer: os ataques de 8 de janeiro precisam ser amplamente investigados para que toda a rede de responsáveis seja identificada, julgada e devidamente punida. E ninguém deve ficar fora desse processo: empresários que colocaram dinheiro para garantir que as pessoas estivessem em Brasília, políticos que estimularam dúvidas e a contestação do resultado das urnas, pastores que colocaram seus fiéis contra a democracia, militares e policiais omissos e, sim, o Jair. Todo responsável deve pagar pelas consequências desse plano muito bem orquestrado e financiado para atacar o Brasil e os brasileiros.